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Cursos precisam desenvolver a capacidade crítica
Publicado em 14/12/2006
por Developer Unifagoc
Como formar mais engenheiros com qualidade no Brasil? Não é uma questão apenas de investir mais dinheiro nas escolas, avalia João Sérgio Cordeiro, presidente da Associação Brasileira de Ensino de Engenharia (Abenge), que reúne 168 instituições com 1,4 mil sócios em todo o país.
É preciso também resgatar o ensino médio e fundamental como plataformas de atração de novas consciências inovadoras. Mas, acima de tudo, trata-se de conquistar cada vez mais a adesão das empresas privadas para a criação de programas comuns de inovação, pesquisas científicas e desenvolvimento de tecnologias com competitividade nacional e internacional. “”É necessário mobilizar governo, escolas, conselhos de engenharia e, principalmente, as empresas, para atingir um nível de ensino avançado como o que alcançaram países como Coréia do Sul e países europeus como Finlândia, Irlanda e Suíça””, diz Cordeiro.
Um ponto fundamental é o desenvolvimento de incentivos e financiamentos públicos para agregar mais tecnologia aos cursos de engenharia.
Pelo menos é isso o que espelham as experiências de outros países emergentes, como a Coréia do Sul, por exemplo (ver acima). Lá, se formam mais de quatro vezes o total de engenheiros formados no Brasil, que hoje deve contar com cerca de 550 mil profissionais, segundo estimativas do Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura. Isso equivale a seis engenheiros para cada mil pessoas economicamente ativas, enquanto o Japão tem 25 engenheiros para cada mil trabalhadores, a França, 15 por mil.
Nesses países, as escolas de engenharia são de boa qualidade e estão produzindo, certamente, engenheiros bem qualificados. A Abenge, segundo Cordeiro, tem trabalhado nos últimos anos para conseguir mais financiamentos dos órgãos públicos para desenvolver programas de melhorias da área de engenharia.
Resultado disso são os editais da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), lançados em meados deste ano, que prevêem investimentos de R$ 40 milhões em projetos de interação entre faculdades de engenharia, setor empresarial e escolas do nível médio e técnico do país.
Mais de 100 projetos, que buscam créditos de R$ 300 mil a R$ 500 mil, foram apresentados para os dois editais, cujos resultados devem sair até o final de dezembro, para posterior contratação em 2007. São propostas que combinam atividade de divulgação das áreas de engenharia e aprimoramento contínuo de professores de ciências exatas e naturais do ensino médio, ou destinam-se a universidades em consórcio com empresas, para criação de laboratórios de inovação.
Vários projetos são dedicados à pesquisa e ao desenvolvimento de novas idéias, produtos, processos e serviços, e os laboratórios deverão ser espaços abertos à integração entre estudantes de graduação, pós-graduação, pesquisadores e técnicos da universidade e empresa.
A flexibilização dos cursos de engenharia, de acordo com o professor Cordeiro, também está em fase bastante adiantada no país. Hoje, são mais de 40 modalidades de engenharia no país (ao contrário das seis de há bem pouco tempo), e várias regulamentações recentes abriram um leque muito grande à especialização das engenharias.
As Diretrizes Curriculares Nacionais, resolução do Conselho Nacional de Educação da Câmara de Educação Superior, já prevêem condições para formação de engenheiros com perfil generalista, humanista, capacitados a absorver e desenvolver novas tecnologias, e uma resolução do Conselho Federal de Engenharia (nº 1.010, de 22 de agosto de 2005) agrega novas atribuições aos títulos profissionais de engenharia (especialização ambiental, por exemplo), ultrapassando os limites tradicionais da engenharia civil, pura e simplesmente.
A nova resolução deve entrar em vigor a partir de julho de 2007. “”A idéia é que a educação seja continuada, o engenheiro nunca deixe de estudar e o diploma seja apenas uma etapa na sua formação””, destaca Cordeiro.
No que se refere à participação das empresas privadas no processo de modernização das escolas de engenharia, há vários exemplos em andamento desse processo de integração, explica o presidente da Abenge. Um dos modelos é a parceria da Petrobras com a Universidade de São Carlos (SP), considerada uma das “”ilhas de desenvolvimento”” da engenharia. Um dos convênios firmados este ano prevê o investimento de R$ 10,5 milhões para construção de um Centro de Pesquisas em materiais e processos para a indústria petrolífera no campus de São Carlos, que deverá estar concluído em dois anos.
Valor Econômico
