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Fim do vestibular?
Publicado em 09/01/2007
por Developer Unifagoc
Imagine uma universidade na qual não se escolhe um curso antes de passar no vestibular. Até porque não existe uma prova de seleção. Pelo menos não nos moldes perversos que se vê hoje. O estudante se candidata a uma vaga no ensino superior, simplesmente. É avaliado por sua capacidade de aprendizagem, de análise, pelo seu potencial. Não precisa mostrar a ninguém que sabe decorar fórmulas, datas e regras. Além disso, o jovem só faz a escolha profissional depois de três anos de graduação. Quando já tiver maturidade e conhecimento suficiente para decidir se quer uma profissão técnica ou uma formação superior genérica.
Tudo isso parece muito distante? Mas não está. A Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, tende a se transformar nesse tipo de instituição em pouco tempo. Ela é uma das universidades brasileiras que aderiu a uma proposta que pretende mudar a cara do ensino superior no país: a Universidade Nova. O projeto foi apresentado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e está sendo difundido pelo seu reitor, Naomar Monteiro de Almeida Filho. De certa maneira, a iniciativa resgata o plano original da UnB, idealizado por Anísio Teixeira.
A principal novidade da proposta é acabar com o atual formato dos cursos. Todos os estudantes ingressariam em um bacharelado interdisciplinar, que duraria três anos. Ele daria uma formação geral, independentemente da profissão que o jovem quiser seguir. Os alunos fariam estudos clássicos, de história, filosofia, ética, lógica, pensamento matemático (incluindo computação), cidadania, política, saúde e artes. “”Isso tudo foi esquecido na formação universitária””, lamenta Naomar. Ele destaca que o universitário anteciparia o conteúdo da formação básica da área profissional que ele pretende cursar.
A conclusão dessa etapa já daria ao estudante um diploma universitário, como bacharel em artes, ciências, humanidades ou tecnologias. Por conta dessa possibilidade, os defensores da Universidade Nova acreditam que poderiam dobrar o número de vagas oferecidas hoje nas instituições de ensino. Para eles, muitos já sairiam da universidade nessa etapa. “”Somente parte dos alunos procurariam a profissionalização””, acredita o reitor da UnB, Timothy Mulholland. “”Assim, a gente dará aos alunos que antes foram socialmente excluídos uma chance de, dentro da universidade, ter uma formação científica, artística e cultural””, argumenta Naomar.
Pela proposta , quem quisesse continuar os estudos depois do bacharelado interdisciplinar passaria por algum tipo de seleção interna para o mestrado acadêmico, a licenciatura ou a formação profissional de curta, média ou longa duração. Nessa fase, os estudantes fariam as atividades práticas da profissão. Timothy confessa que gostaria de adotar um sistema que garantisse vagas nesse bacharelado interdisciplinar a todos os egressos de escolas públicas. “”O ciclo básico nos permite aumentar muito a oferta de vagas””, garante o reitor da UnB.
Fim do vestibular
Com uma concepção tão inovadora, os idealizadores do projeto afirmam que o vestibular não teria mais lugar nas universidades. “”Queremos romper com o paradigma do vestibular. Ele é um exame feito para excluir candidatos porque a universidade elitista não teria vagas para todos. Por isso, ele é difícil””, protesta Naomar. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é visto como uma alternativa possível de seleção. “”O Enem identifica potencial, talento, capacidade interpretativa, competência e habilidade. Para entrar na Universidade Nova, precisamos de um aluno inteligente, competente, estudioso, capaz de se expressar e se formar no âmbito da cultura universitária””, opina.
Para o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Paulo Speller, o exame precisaria ser revisto para assumir essa função. No entanto, ele concorda com a substituição do vestibular por uma avaliação nacional capaz de mostrar as habilidades do aluno.
